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Inteligência artificial colabora na autoria, mas não substitui autor

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Autor Bruno Ferreira Coordenador pedagógico Sobre o autor

O uso de novas tecnologias não descarta a intervenção humana em nenhuma etapa dos processos de criação

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A decisão do governo do estado de São Paulo em substituir o trabalho autoral de 90 professores-curriculistas pelo Chat GPT na concepção de materiais didáticos para os 3,5 milhões de estudantes das escolas da rede estadual gerou revolta na sociedade. Sobre isso, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) explicou que a inteligência artificial será usada apenas em uma parte da elaboração dos materiais que, posteriormente, passarão por revisão e ajustes dos especialistas.

Essa não é a primeira polêmica da gestão Tarcísio envolvendo materiais didáticos produzidos pela própria Secretaria de Educação. No ano passado, slides de algumas disciplinas, entre as quais de História, apresentaram erros de informação. Segundo o conteúdo disponibilizado aos estudantes, a Lei Áurea foi assinada por Dom Pedro II (mas na verdade foi promulgada pela Princesa Isabel) e Jânio Quadros proibiu o uso de biquínis quando prefeito de São Paulo (sendo que o fez na qualidade de Presidente da República).

Com a decisão de delegar à Inteligência Artificial a autoria dos materiais didáticos, ainda que estes passem por revisão posterior, o governo do Estado pode repetir o dissabor do erro, não apenas com relação à confiabilidade das informações do conteúdo pedagógico, mas também na assertividade das propostas de ensino e aprendizagem.

A ausência de subjetividade na etapa inicial de proposição desses conteúdos pode levar à concepção de processos educativos superficiais em proposta e intencionalidade e esvaziada de formação cidadã, revertendo a sala de aula em mero espaço de ocupação dos estudantes com atividades que podem não atingir objetivos curriculares previstos.

Não podemos afirmar, com isso, que esse novo recurso deve ser abolido do planejamento pedagógico. É claro que as ferramentas de inteligência artificial generativa — que geram conteúdos em texto, áudio, imagem e vídeos a partir de comandos humanos — já fazem parte, ainda que informalmente, do trabalho docente. Há professores que já incorporaram essa ferramenta em seu cotidiano laboral, usando-a como facilitadora dos processos de criação de planos de aula e outros tipos de materiais, reduzindo o tempo de dedicação a certas atividades.

Mas uma coisa é o docente, em sua autonomia individual, recorrer a ferramentas digitais para tirar dúvidas e aprimorar conteúdos e abordagens. Outra, bem diferente, é institucionalizar a IA como regra do processo de criação de materiais pedagógicos, ainda mais na concepção das propostas que ditarão o dia a dia da aprendizagem dos estudantes das escolas estaduais de São Paulo.

Um docente que recorre à IA para gerar conteúdos educativos deve se apropriar desse recurso com uma intencionalidade específica e esta se refletirá no comando dado à plataforma. Quanto mais genérica a solicitação à IA, mais empobrecido será o resultado.

Algo que as práticas de educação midiática já têm feito em torno desse tema é destacar a importância de usar o Chat GPT e outras plataformas desse tipo de forma crítica. Para isso, é preciso explorá-la como um extenso e detalhado diálogo autoral, em que a ação humana conduz e refina o que a máquina executa.

Nesse processo, não é possível apartar a concepção do material didático de sua revisão e ajuste fino. Ao alienar a criação da revisão crítica, o trabalho que se espera poupar pode ser redobrado. Em vez de ajustes, os docentes revisores talvez se deparem com criações inapropriadas do ponto de vista pedagógico, ainda que bem estruturadas enquanto linguagem.

Em se tratando de inteligência artificial como auxiliar à criação, não basta um simples comando para atingir um resultado adequado. É necessário que a criticidade humana acompanhe a execução da máquina com comandos cada vez mais precisos, questionando-a e solicitando reconfigurações, ainda que não haja, propriamente, erros ou imprecisões nos resultados.

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Bruno Ferreira

Coordenador pedagógico

Jornalista e professor. Mestre em Ciências da Comunicação e especialista em Educomunicação pela ECA/USP. Possui licenciatura em Educação Profissional de Nível Médio, pelo IFSP. Atuou como professor de Comunicação e Desenvolvimento Social, no Senac-SP, como consultor de alfabetização midiática e informacional da UNESCO e formador de professores de redes públicas de ensino.

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