📸: LR Moreira/Secom/TSE
Em 15 de setembro celebramos o Dia Internacional da Democracia. Essa palavra, no entanto, pelo senso comum, parece reduzir-se ao direito de votar a cada dois anos no Brasil. Embora mais pautada ultimamente pelos veículos de imprensa, em razão de manifestações recentes a favor da volta da ditadura e por intervenção militar na nossa política, faltam espaços que reforcem que hábitos cotidianos, como a expressão de opiniões, insatisfações e reivindicações, por quaisquer meios, são conquistas democráticas.
É apenas em democracias consolidadas que cidadãos comuns, individualmente ou organizados coletivamente, podem expor suas ideias e opiniões e fazer uso de espaços e recursos digitais com liberdade. No entanto, não é a condição de usuário de redes sociais, ainda que hábil do ponto de vista técnico, que torna um cidadão democrático, embora seja a democracia que garanta o exercício de sua liberdade de expressão nesses ambientes virtuais.
É por isso que as questões comunicacionais dos nossos tempos, permeadas por pós-verdade e desinformação, são consideradas por diferentes currículos da educação básica, com a intenção de formar cidadãos capazes de se relacionar com as mídias e com a informação sem ingenuidade. E para formar pessoas críticas é preciso estimular que a apropriação das tecnologias digitais seja acompanhada pelos mesmos valores democráticos que reconhecem o acesso a elas como um direito fundamental nos dias de hoje.
A educação tem esse papel. É ela que dá sentido cidadão às práticas sociais. No que se refere ao uso da tecnologia, os processos educativos devem incorporar as mídias e os provedores de informação para formar cidadãos que valorizem a diversidade e o contraditório. Instituições de educação devem ter uma posição firme de defesa da dignidade e dos direitos humanos, orientando estudantes para que suas comunicações cotidianas levem em conta esses critérios civilizatórios, em vez fazer vista grossa à apropriação nociva desses recursos, para a expressão de mensagens que atentem contra a dignidade de pessoas, grupos e instituições.
No entanto, os princípios de uma comunicação ética e responsável não devem ser tratados na escola ou em qualquer outro espaço potencialmente educativo apenas na teoria. É preciso que a educação proponha vivências democráticas às crianças e jovens, o que passa, necessariamente, pelo exercício da comunicação. Como aprender a ser democrático sem ouvir o outro, sem considerar a participação dos demais, sem reconhecer que esse é um direito de todos?
Sobre isso, Jesús Martín-Barbero (1937-2021), importante intelectual espanhol radicado na Colômbia, tem um belo comentário em um artigo que escreveu ainda no início dos anos 2000, sobre como educar para a democracia. Disse ele: “Não se aprende a ser democrático em cursos sobre democracia, aprende-se a ser democrático em famílias que admitem pais e filhos não convencionais, em escolas que assumem a dissidência e a diferença como riqueza, com meios de comunicação capazes de dar verdadeiramente a palavra aos cidadãos”.
Suas palavras reforçam a importância de valorizar a diferença e de permitir sua existência e manifestação. Dessa forma, as práticas de educação digital e midiática precisam ser, necessariamente, democráticas, no sentido de valorizar a diversidade de pontos de vista e, ao mesmo tempo, reconhecer e combater produções discursivas nocivas à democracia e aos direitos conquistados.
Uma publicação de autoria do Instituto Palavra Aberta, intitulada 5 contribuições da educação midiática à democracia, procura esmiuçar essa ideia numa perspectiva prática, oferecendo a educadores propostas de atividades flexíveis para desenvolver competências democráticas em sala de aula. Partimos do pressuposto que o chão da escola é um microcosmo da diversidade social e que estratégias pedagógicas, a partir do uso de mídias, podem contribuir para qualificar a liberdade de expressão dos estudantes, sua participação na sociedade, além de reforçar a importância da pluralidade de pontos de vista para compreender a realidade em sua complexidade.
E para apoiar práticas pedagógicas significativas, no sentido de evidenciar a relação entre a vida em uma sociedade democrática e eleições, o Palavra Aberta lançou o projeto #FakeToFora, mais uma iniciativa no contexto do programa EducaMídia, com uma série de sete sequências didáticas para educadores da educação básica abordarem o tema, numa perspectiva lúdica e prática.
Ações como essas pretendem deixar claro que o compromisso da educação, no século 21, é formar sujeitos capazes de dialogar, conviver e respeitar as diferenças. As mídias e tecnologias não são, portanto, a finalidade de um processo educativo inovador, mas meios a partir dos quais formaremos cidadãos capazes de aperfeiçoar processos e instituições democráticas.