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Vulnerabilidade frente à desinformação mascara debilidades mais profundas

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Autor Bruno Ferreira Coordenador pedagógico Sobre o autor

Educação deficitária e iniquidades nas mídias fragilizam a capacidade de verificar informações

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Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta semana demonstrou que o Brasil é um dos países mais vulneráveis à desinformação. Participaram do levantamento mais de 40 mil pessoas de 21 países. Os brasileiros tiveram o pior desempenho na avaliação que simulou uma rede social e que pediu para que os participantes classificassem as notícias encontradas nela.

O melhor desempenho foi o da Finlândia, país reconhecido internacionalmente pela trajetória de enfrentamento à desinformação por meio da educação midiática. O país europeu obteve 66% de aproveitamento, acima da média global de 60%. Nosso país ficou com 54%, tendo os piores desempenhos em todos os quesitos avaliados pela pesquisa.

Com relação ao Brasil, esses dados demonstram debilidades para além da especificidade do letramento informacional. Referem-se a um contexto de inúmeras desigualdades que dificultam o desenvolvimento do pensamento crítico com relação às mídias e seus conteúdos. Isso faz com que a mera interpretação textual, habilidade intelectual básica, seja um dos nossos mais graves gargalos cognitivos.

Mas esse cenário é consequência não apenas de um sistema educacional problemático – com salas de aula superlotadas e infraestrutura precária — mas também de um cenário comunicacional injusto e desigual, com pouca diversidade e oferta, desertos informacionais e o intenso uso das redes sociais no cotidiano, onde a informação é acessível, mas nem sempre construída a partir de critérios que a tornam confiável.

Aliás, este é um dado bastante interessante da pesquisa: os países que mais usam redes sociais como principais fontes de informação são os menos hábeis para avaliar a confiabilidade dos seus conteúdos.

Dessa forma, é preciso celebrar o fato de a educação midiática e o letramento informacional serem novos saberes contemplados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Atividades relacionadas à leitura crítica das mídias e à produção midiática responsável já integram diferentes contextos educacionais pelas redes de ensino.

Há novos componentes curriculares, como disciplinas relacionadas à cultura digital e ao uso crítico da tecnologia, mas há ainda a possibilidade de desenvolver competências críticas para as mídias de forma transversal. Nesse contexto, docentes de diferentes áreas do conhecimento podem propor atividades de reflexão sobre o que acessamos e produzimos, de forma atrelada aos seus temas.

No entanto, a dificuldade em decodificar e analisar criticamente a informação é generalizada, afetando também educadores. Por mais que estes sejam demandados a letrar os estudantes nessa perspectiva, também possuem dificuldades em decodificar e interpretar informações, conforme aponta um levantamento realizado semestralmente, desde o ano passado, pelo Instituto Palavra Aberta, com docentes de todo o país que ingressam e concluem sua formação em educação midiática.

Por meio da aplicação de um teste de dez perguntas de múltipla escolha no ingresso e na conclusão da formação, foi possível perceber que as principais debilidades desses docentes recaem sobre a conceituação da desinformação e das “fake news”, bem como a dificuldade operacional em verificar a confiabilidade de conteúdos diversos e de diferenciar as intencionalidades das mensagens de mídia. Nesse quesito, os acertos às perguntas que exploram essas questões oscilam entre 27,5% e 41,9% na avaliação inicial e entre 36,6% a 70,5% na avaliação final.

Lidar criticamente com a informação vai além de alertar a sociedade para as consequências nocivas da desinformação e disseminar protocolos de checagem. É preciso ampliar o repertório do cidadão com práticas educativas que estimulem cotidianamente a investigação e a criação e com meios de comunicação diversos em sua constituição, propósitos e abordagens. Trata-se de uma mudança de cultura que não vai acontecer da noite para o dia, ainda que haja inúmeros esforços para qualificar a educação e o ecossistema comunicacional brasileiros.

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Bruno Ferreira

Coordenador pedagógico

Jornalista e professor. Mestre em Ciências da Comunicação e especialista em Educomunicação pela ECA/USP. Possui licenciatura em Educação Profissional de Nível Médio, pelo IFSP. Atuou como professor de Comunicação e Desenvolvimento Social, no Senac-SP, como consultor de alfabetização midiática e informacional da UNESCO e formador de professores de redes públicas de ensino.

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