Imagem de carregamento
— Colunas e Artigos

Sem identificação, propaganda é uma ferramenta para desinformar

Foto de Patricia Blanco
Autor Patricia Blanco Presidente do Instituto Palavra Aberta Sobre o autor

Saber identificá-la é condição fundamental para a preservação da liberdade de pensamento e de escolha

Imagem de destaque do post

As discussões em torno da publicidade e da propaganda nas plataformas digitais ganharam força nos últimos tempos, impulsionadas por uma certa confusão de conceitos e pelo aumento dos questionamentos em torno do patrocínio, por grandes anunciantes, de páginas que disseminam conteúdo tóxico.

Se por um lado o boicote de grandes marcas às plataformas coloca luz na chamada publicidade programática, por outro, as atividades de movimentos como o Sleeping Giants expõem o lado do apoio a causas e ideologias —ou seja, a chamada propaganda no seu conceito mais amplo.

Diferenciar os dois conceitos é fundamental. É preciso lembrar que a publicidade de produtos e serviços precisa, por exigência legal e seguindo as recomendações do Código Brasileiro de Autorregulação Publicitária (Conar), ser clara e ostensivamente identificada. A propaganda nem sempre é facilmente identificável.

Esta estratégia de comunicação pode estar presente em peças que circulam nas redes sociais, em camisetas, no entretenimento que consumimos, em textos noticiosos e artigos de opinião, em posicionamentos políticos e até em livros didáticos.

É sabido que a identificação do que é conteúdo publicitário não é mais algo tão simples de se fazer. Práticas de influenciadores digitais, como o chamado “unboxing”, ou mesmo dos conhecidos “recebidos”, vêm levantando essa discussão há anos. Nestes casos, anunciantes e veículos vêm trabalhando ativamente na construção de novos códigos de conduta que atendam às necessidades desses novos formatos.

Já a propaganda, em linhas bem gerais, é uma mensagem que busca manipular nossas emoções para influenciar nossas ideias ou ações. Sua identificação é necessária para que possamos tomar decisões de forma independente. Somos especialmente vulneráveis quando ela é alinhada à nossa própria visão de mundo. Ainda que isso seja em prol de uma boa causa, é preciso estar atento para resguardar nossa liberdade de pensamento e escolha.

Hoje, com a proliferação de autores, vozes e canais, esse tipo de discurso pode estar em toda parte, até mesmo nas nossas mensagens pessoais e memes teoricamente inocentes, assumindo formas bastante sutis.

Na era da abundância de informação, recebemos cada vez mais mensagens especialmente escolhidas para chamar a nossa atenção, o que se deve ao trabalho silencioso dos algoritmos, os códigos de computadores que analisam nossos hábitos e interações online e selecionam justamente aqueles conteúdos com potencial de nos manter engajados nas plataformas por mais tempo.

Segundo o projeto Mind Over Media, do Media Education Lab da Universidade de Rhode Island, nos Estados Unidos, as técnicas principais da propaganda são:

• Despertar emoções: a propaganda frequentemente mobiliza emoções humanas, como pena ou ódio, de forma a atingir a mudança de comportamento desejada. É mais eficaz quando amplia nossos próprios medos e preconceitos;

• Falar diretamente a um determinado público: mensagens que falam diretamente às necessidades, esperanças, medos ou valores de um público estreito, ou a identidades muito específicas (políticas, étnicas e outras), acabam por se tornar muito pessoais e portanto especialmente relevantes para esse público;

• Simplificar informações e ideias: a propaganda pode ser reducionistautilizar meias-verdades ou até desinformação. Quando apresentada de forma muito simplificada, ou com clichês verbais ou visuais, até mesmo a informação correta pode parecer “natural” e, portanto, única e inquestionável;

• Atacar os oponentes: é a estratégia de deslegitimar os “rivais”, atacando não só suas ideias, mas por vezes seu próprio caráter. Esse tipo de propaganda pode causar a exclusão de grupos inteiros, incitar o ódio e promover um pensamento polarizado que em última instância impede o debate saudável e a discussão de ideias mais complexas.

Em meio à poluição informacional em que estamos inseridos, saber identificar todos os tipos de conteúdo, inclusive os propagandísticos, é uma habilidade fundamental para que exerçamos de maneira plena, ética e responsável o direito à liberdade de expressão, direito tão caro à democracia.

Foto de Patricia Blanco

Patricia Blanco

Presidente do Instituto Palavra Aberta

Patricia Blanco é presidente do Instituto Palavra Aberta, entidade que lidera o EducaMídia, programa de educação midiática com foco na formação de professores e produção de conteúdo sobre o tema.

Voltar ao topo
FAÇA
PAR—
TE

Venha para nossa rede de educação midiática!
Fique por dentro das novidades

Receba gratuitamente nossa newsletter

Siga nossas redes sociais

Que tal usar nossa hashtag?

#educamidia

Utilizamos cookies essenciais para proporcionar uma melhor experiência. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de privacidade.

Política de privacidade