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Por que precisamos de mais pessoas pretas no jornalismo

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Autor Elisa Thobias Assistente de comunicação Sobre o autor

Veículos de comunicação ainda atuam de forma tímida quando o assunto é diversidade

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📸: Clay Banks|Unsplash

Em um interessante livro de 2019, “Racismo Recreativo”, o doutor em direito Adilson Moreira discute, entre outras questões, as diversas formas que o racismo institucional pode assumir. Entre elas, está o fato de, por conta da raça, algumas pessoas não conseguirem acesso a postos de trabalho ou terem suas chances de ascensão profissional diminuídas dentro de uma instituição.

É evidente que o meio jornalístico não foge a essa regra. Os profissionais dos veículos de comunicação e redações não refletem a maioria da população do país. 

Ao passo que, segundo levantamento do IBGE, 54% dos habitantes do Brasil se identificam como não brancos, somente cerca de um quarto (23%) dos jornalistas profissionais são pretos. Isso se dá pela falta de oportunidade, voz e protagonismo a essa população historicamente marginalizada e que enfrenta, em seu dia a dia, heranças de uma sociedade colonial marcada pela escravidão. 

A presença de pessoas pretas na grande mídia vai além da representatividade, significa apresentar à sociedade, por meio de um olhar sensível, questões que até então eram sistematicamente negligenciadas. 

A falta de lideranças negras nas equipes editoriais, o reforço de estereótipos em que só há destaques para pessoas não brancas em datas comemorativas, como o Carnaval, e a aparição de pretos somente quando a pauta é a violência policial são situações denunciadas por comunicadores negros, numa clara demonstração de como o racismo estrutural permeia a profissão. 

Tal quadro motivou o surgimento de uma imprensa alternativa bastante sólida nos últimos anos. Portais como o Geledés e o Alma Preta atuam de forma ativa, dando destaque a pessoas pretas em outras situações que não as de opressão, algo ainda feito de forma tímida pelos meios tradicionais. Os conteúdos desses e de outros sites têm ganhado bastante tração nas redes sociais, o que vem pressionando a imprensa a se movimentar nesse sentido.

De fato, estamos saindo da inércia. Nota-se um movimento, por parte dos veículos tradicionais, de busca por diversidade racial em seus quadros profissionais. Talvez o melhor exemplo seja o da apresentadora Maria Júlia Coutinho, que hoje está no Fantástico, mas já apresentou o Jornal Hoje e vez ou outra ocupa a bancada do Jornal Nacional, todos da TV Globo, a maior emissora do país.

No entanto, ainda precisamos caminhar muito na compreensão de que equipes mais diversas são fundamentais para contribuir com diferentes perspectivas e visões de mundo na imprensa tradicional. Temos pouquíssimos apresentadores pretos nas mídias brasileiras de maior audiência, cargos normalmente ocupados por pessoas brancas, o que não reflete nossas diversidades populacional e cultural.

É preciso que as novas gerações de comunicadores e jornalistas tenham ciência de toda a importância histórica que a população negra teve na construção econômica do país. Personalidades importantes como Heraldo Pereira, Aline Midlej, Basília Rodrigues, Zileide Silva e a própria Maju Coutinho são comunicadores que cumprem de forma excepcional o trabalho que se propõem a fazer e são espelho para o futuro, empoderando a representatividade e fazendo com que a sociedade reconheça seus potenciais. 

Nesse sentido, a educação midiática pode contribuir para a formação consciente de crianças e jovens. Se a sua premissa é formar cidadãos críticos, aptos a viverem no mundo conectado e usando as mídias de forma consciente, não pode deixar de lado a discussão sobre representatividade e raça. Isso pode ser feito com discussões importantes sobre o tema que podem ser iniciadas no meio digital e levadas para os meios tradicionais e escolas, como ocorreu com o movimento Black Lives Matter, evidenciando a potencialidade desse tipo de ação. 

Da mesma maneira que a costureira Rosa Parks, ícone do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, disse que “nunca se deve ter medo do que faz quando o que você faz é o certo”, os veículos de comunicação devem dar mais espaço para pessoas pretas nas redações, para que situações de opressão racial sejam debatidas por quem as tenham vivenciado e também para que elas possam contribuir com a discussão de outros temas econômicos, culturais e políticos, inspirando o desejo de mais diversidade nas novas gerações. 

 

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Elisa Thobias

Assistente de comunicação

Educomunicadora, é assistente de comunicação.

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