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O que é participação cidadã?

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Autor Mariana Ochs Coordenadora EducaMídia Sobre o autor

O papel da educação midiática na formação cidadã dos jovens

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“Deixe que as crianças construam
o mundo no qual viverão.”
Mark Prensky, The Global Future Education Foundation

O educador norte-americano Mark Prensky é conhecido entre nós por ser o autor da expressão “nativos digitais” – aquela que descreve a geração que já nasceu em um mundo em que as telas estão por toda parte, e portanto tem mais familiaridade com um mundo mediado por equipamentos, interfaces e softwares.

Há outra expressão, essa do campo do marketing, que busca definir essa geração – muito mais a partir de seus padrões de uso das tecnologias digitais do que de fato um recorte demográfico, por idade ou região. É a chamada “Geração C”, que tem na conectividade, colaboração, compartilhamento, comunidade, criação e outros tantos “Cs” a sua maneira de estar no mundo.  

Seja como for que decidimos chamá-los, o professor Prensky aponta nos jovens e crianças da nossa era algo muito mais importante do que a mera habilidade de manusear telas e aplicativos: o poder latente de impactar positivamente a sociedade através da mobilização das chamadas competências do século 21 – a criatividade, colaboração, comunicação, empatia e todos os seus inúmeros desdobramentos —, transformando o mundo através do uso positivo e ético da tecnologia e das mídias.  

Em seu livro “Educação para um mundo melhor: Como estimular o poder das crianças e jovens do século XXI(Panda Educação, 2021), Prensky argumenta que aprender não deve ser o objetivo do aprendizado, e sim o meio pelo qual podemos melhorar o mundo. Atualmente, aponta Prensky, não trabalhamos com os jovens dessa forma; focamos apenas no sucesso acadêmico, buscando formar alunos adaptados ao sistema educacional atual, conhecedores do conteúdo curricular das disciplinas e preparados para prestar exames (e, quem sabe um dia, efetuar alguma transformação positiva na sociedade). Muito mais eficaz, segundo ele, é nos concentramos desde o início do processo educativo em preparar um mundo melhor, formando crianças adaptadas a um mundo líquido, dotadas de empatia, desenvoltas nas competências do século 21, e capazes de ativar a fluência midiática e tecnológica para fins de participação positiva na sociedade. E a maneira de conseguir isso, segundo ele, é dar às crianças, desde muito cedo, a possibilidade de criar projetos com impacto real e mensurável sobre problemas autênticos de seu entorno, em qualquer faixa etária, como aqueles descritos no banco de dados organizado por seu instituto Global Future Education.

De fato, mesmo com todos os desafios impostos pela hiperabundância de informação na internet, o mundo digital nos apresenta também esse enorme poder que é a oportunidade de investigar, aprender, criar e publicar, atuando em prol de causas que nos são caras. A educação midiática nos ajuda a utilizar a tecnologia para identificar e explorar problemas comuns, encontrando e avaliando informações, escutando e respeitando diversas vozes, dialogando e buscando soluções. Também nos ensina a dominar as ferramentas e ambientes de comunicação para utilizar a nossa própria voz em prol da construção de um mundo melhor. O conjunto dessas ações é o que chamamos de participação cívica.

A era digital amplia e traz novas dimensões aos propósitos da Educomunicação, que desde os anos 70 explora as possibilidades de intervenção na sociedade por meio da leitura crítica e domínio da comunicação, sobretudo como possibilidade de expressão de grupos sub-representados na mídia tradicional – atuando, segundo o professor Ismar Soares, da USP, “na gestão de vozes e desejos”. Projetos como Imprensa Jovem, da Prefeitura de São Paulo, e outros tantos pelo mundo, exploram a criação de mídias e o exercício do jornalismo na escola como reconhecimento de um potencial de participação na sua comunidade e além.

A ideia de que, através do domínio das habilidades midiáticas, crianças e jovens podem passar da compreensão de problemas à ação positiva e propositiva está também no cerne de currículos como o Digital Civics Toolkit, da Fundação MacArthur. O programa propõe que os jovens mobilizem essas habilidades para um mergulho na descoberta de suas identidades e comunidades, investigando e explorando diferentes perspectivas, criando e compartilhando conteúdo para expressar a sua voz e buscar efetuar transformações.    

Esse tipo de proposta pode evoluir naturalmente de práticas pedagógicas já conhecidas, como o aprendizado baseado em problemas ou em investigação. Assim como nessas práticas, o ponto de partida da participação cidadã é o desenvolvimento da habilidade de fazer perguntas, indo além do conteúdo curricular. Técnicas de elaboração de perguntas, como aquelas propostas pelo The Right Question Institute, nos ajudam a desenvolver o hábito da investigação e expandir o nosso olhar para além da sala de aula. 

Além disso, não basta aprender a buscar e acessar informação confiável, relevante e de qualidade – precisamos nos perguntar o que vamos fazer com ela. É nessa perspectiva, de criação de soluções, que também podemos inserir a educação midiática no campo da aprendizagem criativa. A partir da identificação de um problema ou desafio real, alunos podem criar soluções tangíveis para a sua escola ou comunidade, seja na forma de artefatos, narrativas ou campanhas. 

O Guia da Educação Midiática traz orientações sobre como passar do trabalho escolar à participação cívica, com sugestões para a sala de aula. O livro dá exemplos concretos de como podemos impactar nossa comunidade por meio do uso consciente, criativo e positivo das mídias, atuando em diversas esferas da comunicação: 

  • Jornalismo para jogar luz sobre problemas e apontar soluções. Exemplo: Que vozes estão ausentes na comunidade escolar? Peça que selecionem algum grupo específico, como funcionários da manutenção, alunos LGBT, cadeirantes ou outro, e entrevistem essas pessoas para elas possam contar suas histórias para toda a coletividade.
  • Participação nas redes sociais via hashtags e campanhas. Exemplo: Que tal criar uma campanha nas redes sociais para ajudar a esclarecer o termo “racismo estrutural” e apoiar as pessoas na realização das mudanças pessoais e sociais para combater o racismo?
  • Campanhas de utilidade pública em vídeos, posts e cartilhas. Exemplo: Proponha aos seus alunos a criação de uma campanha de utilidade pública enfatizando o papel de cada um na saúde coletiva, com linguagem acessível e exemplos, cenários e personagens locais.
  • Cartas ao editor e outras formas de pressão pública. Exemplo: algumas capas de revistas ou artigos de jornais utilizaram termos xenofóbicos ao tratar do coronavírus. Peça aos alunos que escrevam um artigo de opinião ou uma carta ao editor apontando esse problema e refletindo sobre seus impactos.
  • Sistemas de informação e outros projetos educativos. Exemplo: produza uma cartilha ou newsletter com dicas práticas para quem está desempregado ou na informalidade, contando sobre os direitos dos trabalhadores informais, cursos gratuitos na região, como melhorar a apresentação do currículo etc.

Deborah Meier, fundadora do projeto What Kids Can Do, afirma: “Há uma ideia nova, radical e maravilhosa aqui… que todas as crianças podem e devem ser inventores de suas próprias teorias, críticas das ideias de outras pessoas, analistas de evidências e criadoras de suas próprias marcas pessoais no mundo.” Indo além, o EducaMídia acredita que formar jovens que têm uma relação positiva e fortalecedora com o mundo das mídias e da comunicação, e que confiam em seu próprio poder de transformação, é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e democrática. 

 

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Mariana Ochs

Coordenadora EducaMídia

Designer e educadora, é corresponsável pelo conteúdo do EducaMídia. É Google Innovator e Trainer, atuando na transformação digital de escolas.

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