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A pandemia de Covid-19 escancarou e ampliou as desigualdades sociais no Brasil. Um dos pontos de maior desequilíbrio diz respeito aos temas relacionados à tecnologia e à educação – ou melhor, à ausência delas.
É fato que a exclusão digital no Brasil extrapola os limites das salas de aula. A mais recente pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios (TIC Domicílios), do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), mostra que, apesar de o percentual daqueles que navegam na web ter subido de 71% para 82% entre 2019 e 2021, há ainda 35,5 milhões de brasileiros sem acesso à internet.
Se não bastasse ser tão difícil reverter tamanha exclusão, seja digital ou social, as tecnologias avançam em acelerada velocidade e dão a impressão de que milhões de brasileiros e brasileiras ficarão ainda mais distantes dos benefícios desse avanço. E, no cenário atual, se nada for feito, a tecnologia pode servir para aprofundar ainda mais as desigualdades.
Por outro lado, esses avanços – sobretudo a chegada da rede 5G, a quinta geração das redes móveis – podem representar uma excelente oportunidade para acelerar e ampliar a inclusão digital. Essa nova tecnologia, que pretende transformar a experiência online, trazendo velocidade e conectividade jamais experimentadas, precisa ser usada justamente para eliminar barreiras de acesso e, com isso, favorecer também a inclusão social e econômica, principalmente dos mais jovens.
E essa inclusão vai além do acesso (que é básico, claro). É preciso preparar as novas gerações não apenas para o uso da tecnologia em si, o que inclui o funcionamento das ferramentas e dispositivos, linguagens de programação e robótica, entre outros saberes, mas principalmente para que façam uso realmente qualificado, ético e fortalecedor de toda e qualquer tecnologia, desenvolvendo assim todo o seu potencial. Ou seja, passa necessariamente pela implantação da educação digital e midiática desde os primeiros anos de escolarização.
Como afirmou a futurista americana Amy Webb, no Festival LED – Luz na Educação, realizado no início de julho pela Globo e Fundação Roberto Marinho, “o futuro da educação será moldado por forças econômicas, decisões políticas, mudanças culturais – a tecnologia desempenha um papel, mas não é um papel predominante”.
Webb ressaltou que é decisivo oferecer infraestrutura tecnológica. Contudo, o uso intensivo de novas ferramentas tem de ser acompanhado por investimento pesado na formação de professores. Segundo ela, a infraestrutura, especificamente o 5G, é um requisito para a educação moderna. Entretanto, os professores também fazem parte da infraestrutura central do Brasil. Nas palavras de Webb: “O País deve investir em seus professores. E deve capacitá-los a usar a tecnologia já preferida pelos alunos, como o WhatsApp, por exemplo”.
Essa preocupação, embora nova no Brasil, vem ganhando força nos últimos anos, o que suscita algum otimismo. Desde 2019, o País possui normas que têm como objetivo oferecer conhecimento tecnológico e educação midiática e informacional aos jovens dos ensinos fundamental e médio. Isso está contemplado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e já começa a dar frutos.
Dessa forma, espera-se que todas as esferas de governo promovam constante capacitação dos seus professores e demais profissionais da área da educação, além de garantir infraestrutura para que educadores e alunos possam fazer o melhor uso das tecnologias.
É certo que toda a sociedade ganhará se pensarmos para além do acesso, colocando a tecnologia não como fim, mas como o meio pelo qual crianças e jovens terão condições reais de transformar informação em conhecimento e com isso, serem de fato, incluídos na sociedade conectada. Sem isso, garantir o acesso ao 5G ou a qualquer recurso tecnológico que seja não resultará em cidadania plena.