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Como em qualquer profissão, jornalistas também erram. Há erros famosos (caso em que um texto afirmava que Jesus Cristo havia sido enforcado —e não crucificado) e outros mais corriqueiros ou menos significativos, por exemplo, quando uma letra é trocada de lugar.
A história da imprensa está repleta de exemplos e é de se esperar que outros equívocos aconteçam pela pressa em divulgar as notícias, por falta de revisão ou até despreparo de quem está produzindo uma reportagem. Isso não quer dizer que os erros sejam tratados como algo banal dentro das redações, muito pelo contrário. Errar coloca em risco o principal atributo que todo jornalista almeja conquistar e manter: credibilidade junto ao público.
Nenhum jornalista profissional quer cometer enganos. Essa é uma situação embaraçosa e desgastante que, em última instância, pode gerar demissão ou arruinar uma carreira. Por isso mesmo, um erro jornalístico não pode ser classificado como fake news, que são informações que já nascem com a intenção de enganar.
Além disso, quando um jornalista erra, sabemos seu nome ou pelo menos o veículo de comunicação ao qual está ligado e ambos podem ser acionados juridicamente. Mas identificar a autoria de uma fake news é, na maioria das vezes, quase impossível.
Há alguns dias, no entanto, essa confusão apareceu em discussões nas redes sociais assim que a Folha publicou, erroneamente, o obituário da rainha Elizabeth 2a, do Reino Unido. Entre memes e algumas brincadeiras sobre o deslize do jornal, houve quem apontasse indevidamente o episódio como fake news.
Vale repetir: as fake news são criadas com o propósito de ludibriar e seus autores ganham com isso, enquanto erros no jornalismo profissional, ainda que possam ter consequências tão sérias quanto as de uma fake news, ocorrem por descuido ou desatenção e proporcionam prejuízo.
Há uma outra diferença importante: a imprensa deve publicar correções quando errar, de preferência explicando o que aconteceu. A transparência, como todos sabemos, não é o forte de quem deliberadamente produz fake news.
A Folha informou que a publicação equivocada ocorreu por um “erro técnico”. É comum que jornalistas preparem com antecedência reportagens sobre a vida de personalidades e líderes mundiais, para que tenham agilidade de levar informações mais detalhadas e aprofundadas ao público quando necessário.
O leitor que, eventualmente, tenha visto a matéria sobre a morte que não aconteceu tem toda a razão em criticar a falha. A situação pode ser ainda mais complicada quando o erro jornalístico leva o público a tomar alguma decisão a partir das informações equivocadas.
Na área de economia, por exemplo, a publicação de um único número errado pode significar perda de dinheiro para o leitor, ouvinte ou telespectador. Há casos ainda mais graves, em que reputações de pessoas são duramente atingidas. Por mais sérios que sejam os erros cometidos por veículos e jornalistas, no entanto, não se pode confundi-los com fake news.
Já há alguns anos, o jornalista e pesquisador canadense Craig Silverman, um dos primeiros a utilizar a expressão fake news, alertou para a banalização do conceito. Segundo ele, é essencial delinear a fronteira entre os erros cometidos no curso de uma reportagem e pessoas ou entidades que conscientemente mentem para ganhar dinheiro ou influência. “Ajudei a popularizar o termo fake news e agora me arrepio toda vez que o ouço”, disse, em um artigo de 2017.
É de arrepiar também encontrar por aí pessoas, principalmente políticos, que usam o termo fake news como sinônimo para “toda e qualquer informação que me desagrada ou contraria”.