As decisões mais relevantes da vida são, em geral, acompanhadas de pesquisa e reflexão. Precisamos de informações que sirvam de parâmetro para nossas escolhas —seja no campo pessoal (ao definir uma profissão ou a cidade onde morar, por exemplo) ou nos momentos em que, coletivamente, somos chamados a eleger nossos representantes no governo.
Sem dados precisos, é impossível fazer as melhores escolhas. E é justamente aqui que a imprensa livre e independente pode fazer muita diferença.
O trabalho dos jornalistas ao investigar, confirmar e publicar informações é crucial para que os eleitores comparem candidatos, avaliem a viabilidade das promessas de campanha, reflitam sobre áreas e setores que consideram mais necessitados e, então, escolham seus candidatos. Nesta jornada, é comum que políticos sintam-se incomodados e reclamem. Faz parte do jogo.
Cabe à nós, enquanto sociedade, defender o papel da imprensa. Mas, para isso, é preciso entendê-lo, conhecer seus bastidores, sua “cozinha”. Jornalismo tem método, e é importante que ele seja compreendido pelo maior número de pessoas. Não se trata de apoiar incondicionalmente a atividade —sabemos que, como em qualquer outra profissão, há falhas e elas precisam ser apontadas. Mas até para que as críticas sejam mais assertivas é preciso conhecer o jornalismo.
Diante da superabundância de informações a que estamos expostos hoje em dia, é vital que a imprensa seja capaz de comunicar seus procedimentos, caminhos e decisões. É essa transparência que ajudará a sociedade a distinguir um conteúdo tratado com responsabilidade de outros tantos que chegam até nós sem autoria conhecida, sem evidências apresentadas e sem qualquer compromisso com a precisão. “À mulher de César não basta ser honesta.”
Também importa para o público saber quais os obstáculos enfrentados pelo jornalista, em que muros esbarrou e quais informações não conseguiu obter.
Nesta semana, o jornal The New York Times fez barulho ao publicar dados sobre o imposto de renda do presidente norte-americano Donald Trump e de suas empresas. Desde a campanha eleitoral de 2016, ele vinha se recusando a tornar públicas informações detalhadas sobre suas finanças (atitude inédita para um candidato à presidência dos Estados Unidos desde pelo menos a década de 1970). Além dos dados em si, o NYT publicou uma nota para explicar o trabalho. “Estamos publicando esta reportagem porque acreditamos que os cidadãos devem saber o máximo possível sobre seus líderes e representantes —suas prioridades, suas experiências e também suas finanças”, afirma.
E, já antecipando eventuais críticas, acrescenta: “Alguns podem questionar a publicação de informações fiscais pessoais do presidente. Mas a Suprema Corte tem decidido repetidamente que a Primeira Emenda [à Constituição norte-americana] permite que a imprensa publique informações com valor noticioso obtidas legalmente por repórteres mesmo quando aqueles que estão no poder lutam para escondê-las”.
No Brasil, a Constituição Federal (que completa 32 anos na próxima segunda-feira, dia 5) trata o acesso à informação como direito fundamental, assegurando a livre expressão da comunicação e abrindo espaço para que qualquer cidadão solicite dados ao governo —o que foi regulamentado pela Lei de Acesso à Informação. Também aqui o jornalismo tem mostrado papel importante: não só ao fazer uso dessa possibilidade, mas principalmente pelo compromisso em “traduzir” para a população em geral documentos, tabelas e dados que muitas vezes carecem de contexto ou não são de leitura simples.
Esta é uma das várias funções da imprensa. Para entender melhor os caminhos e procedimentos de jornalistas profissionais, da elaboração de uma pauta até a publicação da notícia, o Instituto Palavra Aberta criou a websérie “Conhecer Para Defender”, com apoio do Facebook. Nela, jornalistas que trabalham em diferentes formatos e para diferentes públicos, explicam de modo didático seu dia a dia e refletem sobre suas responsabilidades.
Estamos nos aproximando de mais uma eleição. É novamente uma oportunidade de comprovar como nossa capacidade de análise está diretamente ligada à qualidade das informações de que dispomos. Nesse contexto, a função do jornalismo não é mover o eleitor para este ou aquele lado; e sim informar o cidadão para que ele tenha condições de escolher a própria direção.