Há muito se discute sobre a necessidade de a escola estar mais conectada com as demandas contemporâneas do mundo. Entre educadores, já circulou uma provocação interessante, que aborda a disparidade entre a estrutura escolar e a modernidade, algo mais ou menos nesta linha: se um sujeito que viveu há 500 anos pudesse viajar no tempo e chegar ao presente, ele reconheceria a sociedade apenas pela escola, que mudou pouco desde então.
A educação, felizmente, mudou e muito de décadas atrás para a atualidade. Mas a escola, enquanto espaço físico, lugar de socialização, convivência e construção de conhecimento, precisa, de fato, ser repensada para arejar-se com as novas perspectivas do campo.
Num mundo altamente midiático e digital, os currículos vêm se atualizando, assumindo a necessidade de implementar estratégias pedagógicas que repercutam o avanço da tecnologia.
No entanto, não se trata apenas de introduzir recursos digitais para modernizar a estrutura física da escola e seus materiais. Trata-se de incorporá-los em novos métodos de ensino que valorizem o protagonismo do estudante, pelo exercício da investigação e a criatividade, a partir dos quais se tornará um sujeito autônomo e participativo.
Isso porque a tecnologia está entranhada no cotidiano e nos hábitos culturais da sociedade, especialmente dos mais jovens, que se entretém e estabelecem novas formas de buscar informação e de socializar a partir das plataformas digitais.
Esse jeito de ser e estar no mundo precisa ser refletido na escola, seja para que a educação amplie repertórios a partir do que faz sentido para o estudante, seja para problematizar os danos do excesso de telas e de exposição a conteúdos danosos ou ainda do uso pouco ou nada crítico das ferramentas disponíveis.
Tudo isso vai muito além do que simplesmente aprender a manejar recursos e dispositivos que, nos dias de hoje, envelhecem rapidamente, ganhando novas versões ou sendo rapidamente ultrapassados por novidades.
Não se trata, portanto, de aprender a “mexer” nas aplicações, como antigamente faziam os cursos de informática. Ainda é comum, no contexto da formação continuada de docentes, que a tecnologia seja abordada numa perspectiva meramente instrumental, em que esses profissionais aprendem mais sobre o manejo de um recurso novo do que como este pode integrar um processo pedagógico mais engajador.
Essas premissas fazem parte da abordagem da educação midiática, que mais do que ensinar tecnicamente aspectos relacionados às mídias para a autoexpressão e para a busca por informação, enfatiza a necessidade de refletir sobre os hábitos midiáticos, de investigar e analisar fontes de informação e de adotar condutas éticas no exercício individual ou coletivo da liberdade de expressão.
É nessa perspectiva que o programa EducaMídia, do Instituto Palavra Aberta, forma semestralmente professores de todo o Brasil em um curso que leva os participantes a pensar sobre a cultura digital e a propor estratégias para que estudantes da educação básica desenvolvam habilidades críticas com relação às mídias e à informação e com relação ao uso fortalecedor das tecnologias.
Educadores podem se inscrever gratuitamente para a turma do segundo semestre de 2024 no site do programa (www.educamidia.org.br). A formação, que começa no fim de agosto, é um convite para repensar práticas, tendo as mídias e as tecnologias digitais como aliadas de práticas pedagógicas emancipadoras e também como objetos de estudo, urgentes para o exercício consciente da cidadania nos tempos presentes.