Imagem de carregamento
— Colunas e Artigos

Eleições: a polarização e seus efeitos para além das redes

Foto de Patricia Blanco
Autor Patricia Blanco Presidente do Instituto Palavra Aberta Sobre o autor

Às vésperas do primeiro turno, precisamos refletir sobre a importância de educar para o exercício da democracia

Imagem de destaque do post

A violência sofrida por pesquisadores do Datafolha nas últimas semanas, somada às mortes e ataques por motivação política e à escalada de agressões nas redes sociais, acende um alerta e reforça a necessidade de repensarmos a forma como estamos tratando os assuntos relacionados à democracia e à educação política no Brasil.

Não é de hoje que o recrudescimento da polarização tem afetado o debate público, mas o problema ficou ainda mais latente e extremamente preocupante nestes últimos meses. Se antes as brigas estavam restritas a grupos de família e amigos nos aplicativos de mensagem e em perfis de redes sociais, hoje a guerra política transcende o mundo virtual, com impacto real na vida das pessoas.

Dados de uma pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em parceria com a Rede de Ação Política (RAPS) e divulgada em meados de setembro, trouxe números alarmantes: 67,5% dos brasileiros têm medo de expor sua posição política, ou seja, praticamente sete em cada dez pessoas dizem ter receio de sofrer algum tipo de agressão por causa de suas escolhas políticas.

Na esteira do aumento do tom da discussão política, muitos acabam se retirando do debate por medo de serem ameaçados, cancelados ou atacados por suas posições ou escolhas e deixam de expor suas opiniões. O silenciamento de vozes afeta um dos princípios básicos da democracia que é a liberdade de expressão. Sem o respeito à pluralidade e à diversidade, o processo democrático fica combalido.  

Outro pilar fundamental da democracia, a liberdade de imprensa, também não tem passado incólume diante deste cenário de extremismo. Nos últimos anos, vimos crescer o número de ataques e ameaças contra jornalistas, principalmente mulheres, e veículos de comunicação. Sem contar as insistentes ações que visam desacreditar a imprensa e o exercício do jornalismo profissional.

Monitoramento das redes sociais feito pela Repórteres Sem Fronteira (RSF) para analisar o alcance e os padrões dos ataques contra a imprensa mostrou que, no primeiro mês da campanha eleitoral (de 16/8 a 15/9), houve ao menos 2,9 milhões (2.865.845) de postagens com conteúdo ofensivo e agressivo contra os jornalistas, incluindo 264 hashtags diferentes usadas nos ataques. Segundo a entidade, os números representam, pasmem, mais de um ataque por segundo desde que teve início a campanha eleitoral.

É neste contexto e às vésperas do primeiro turno de uma das eleições mais comentadas dos últimos tempos que precisamos refletir sobre a importância de educar para o exercício da cidadania. Já passou da hora de virarmos a página de projetos que visam limitar a discussão sobre democracia e termos de fato uma cadeira que permita o debate aberto sobre este tema.

Educar para a democracia vai além de discutir partido, preferência política, esquerda ou direita. Vai no sentido de formar uma geração que respeite e valorize os princípios que norteiam o estado democrático de direito, que conheça a Constituição, que entenda quais são os deveres e regras, que possam usufruir dos direitos e com isso possam exercer plenamente a cidadania.

Educar para a democracia envolve ainda o entendimento do papel da imprensa, a leitura crítica das informações que nos chegam de forma tão abundante todos os dias e a produção responsável de conteúdos por cada um de nós. Dessa forma, a educação política está conectada diretamente à educação midiática, já que precisamos de informações de qualidade para tomar as melhores decisões  – principalmente num contexto de eleições.

Oportunidade para isso existe. Como demonstrado no estudo da FBSP/RAPS, a população brasileira apoia maciçamente o regime democrático e condena ações autoritárias: 89,3% concordam com a frase “O povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”, e 88,5% concordam que “O povo ter voz ativa e participar nas principais decisões governamentais é essencial para a democracia”. Sem contar que mais de 90% dos entrevistados esperam que o resultado das eleições do próximo dia 2/10 sejam respeitados. Que tal aproveitarmos este dado para avançarmos na construção de uma sociedade ainda mais democrática? 

Foto de Patricia Blanco

Patricia Blanco

Presidente do Instituto Palavra Aberta

Patricia Blanco é presidente do Instituto Palavra Aberta, entidade que lidera o EducaMídia, programa de educação midiática com foco na formação de professores e produção de conteúdo sobre o tema.

Voltar ao topo
FAÇA
PAR—
TE

Venha para nossa rede de educação midiática!
Fique por dentro das novidades

Receba gratuitamente nossa newsletter

Siga nossas redes sociais

Que tal usar nossa hashtag?

#educamidia

Utilizamos cookies essenciais para proporcionar uma melhor experiência. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de privacidade.

Política de privacidade