Em uma de suas primeiras declarações após eleito, o Papa Leão XIV destacou o caráter revolucionário das tecnologias digitais. Para o mais novo sumo pontífice da Igreja Católica, vivemos um momento histórico marcado por grandes desafios relacionados aos avanços da inteligência artificial, o que, segundo ele, reforça a necessidade de responsabilidade e discernimento na apropriação dos potenciais desse recurso.
Suas palavras endossam o cenário complexo em que vivemos, não apenas pelo que a IA tem desempenhado, mas pelas transformações que os usos de outros recursos digitais vêm provocando nas últimas décadas, seja ampliando as possibilidades de produção e difusão de informação, seja poluindo o ecossistema informacional e contribuindo para o acirramento da pressa, do imediatismo e da indisponibilidade do ser humano a relações mais profundas.
Os benefícios e, sobretudo, os problemas resultantes da nossa relação com as mídias e outras tecnologias têm feito com que a educação midiática e digital seja objeto crescente de interesse das mais diversas instituições e especialistas de diferentes áreas de atuação.
Com a percepção da centralidade das tecnologias e mídias no cotidiano, é difícil negar a importância não apenas de apropriar-se desses recursos, por ser um direito, mas principalmente de torná-los objeto de estudo, na educação formal, e de debate em outras instâncias da vida social e entre populações que não mais frequentam a escola.
A educação midiática é, portanto, um direito inalienável já previsto para estudantes da educação básica em diretrizes educacionais diversas, de forma direta ou implícita, desde a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e seu complemento de Computação, à Política Nacional de Educação Digital e a recente resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE). Outros públicos fora do sistema escolar, no entanto, ainda carecem de iniciativas e de políticas públicas que garantam espaços de reflexão sobre os usos e apropriações das mídias e outras tecnologias digitais para além das habilidades técnicas, tornando a inclusão digital mais holística.
Há, no entanto, experiências bem-sucedidas de educação midiática e digital que podem inspirar políticas públicas mais amplas, estendendo-as a famílias de realidades diversas, para que mães, pais e outros responsáveis possam mediar com mais propriedade a relação de suas crianças e jovens com os dispositivos digitais, como o celular, em âmbito doméstico, bem como às pessoas idosas, que contam com poucas referências e espaços para aprender e discutir sobre questões e hábitos digitais.
O recente Guia Sobre o Uso de Dispositivos Digitais, do Governo Federal, que contou com a participação de diferentes especialistas e organizações, entre as quais o Instituto Palavra Aberta, propõe orientações para ajudar famílias a estabelecer processos de acompanhamento dos hábitos digitais de suas crianças e adolescentes.
Com relação aos idosos, programas como USP 60+ e projetos da Olabi, uma organização carioca, aproximam esse público das tecnologias, dando sentido à inclusão digital, uma vez que educam para o uso autônomo e crítico. O alcance dessas iniciativas ainda é, no entanto, baixo comparado ao desafio de tornar a educação midiática um direito ainda mais amplo.
Embora as iniciativas mencionadas sejam importantes e promissoras, é imperativo que políticas públicas abrangentes e incentivos robustos de empresas e organizações sejam implementados para democratizar a educação midiática, para que mais famílias e indivíduos de todas as idades desenvolvam autonomia e criticidade nas relações cotidianas no ambiente midiático e informacional, online ou off-line.